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sexta-feira, 21 de março de 2014

Quando eu não me sou é que eu mais me sou

Não importa pra onde eu vá, com quem eu divida a existência, o que eu viva...de um modo ou de outro
eu sempre retorno à minha solidão
à minha triste solidão
à solidão que é minha
nada me faz sentir que eu sou tão eu quanto a minha própria solidão.

Nada me faz sentir tão próxima de mim quanto estar comigo mesma
há um hiato entre quem sou e quem penso ser
eu moro nesse hiato
É aí que tenho notícias de mim

Posso ir pra Miami, Cancun, Paris, Antártida
posso nunca usar droga alguma
posso beirar a overdose de tanta droga

e sempre que pergunto a mim quem eu sou
encontro comigo mesma
e isso nunca é apaziguante

Eu sou o que sobrou de mim
isso não é legal
mas eu não queria que fosse de outro jeito.

domingo, 9 de março de 2014

Do que muda sem se calar

Até ontem eu não era eu e não me lembro bem quem eu era. Queria sentir saudades de mim pra poder resgatar um pedaço de quem fui. Mas sou cada vez mais presente. O passado me marca no real do corpo e é por isso que sei que vivi. Os desenhos que o tempo faz no meu rosto, com cada vez mais ânimo, é que dizem da minha idade. Eu seria capaz de dizer que nasci há 5 minutos. Sou cada vez menos feita de passados. Logo eu, que tenho uma memória tão boa. A vida marca cada vez mais o meu corpo e cada vez menos a minha alma. Há um descolamento entre corpo e alma que dói menos a cada dia. Eu gosto da dor, gosto de dores que não doem. Gosto de tudo aquilo que me lembra que estou viva. Cada vez preciso menos escrever, isso me assusta. Não sou  quem pensei que eu fosse um dia. Não sou mais quem eu pensei que sempre seria. Não há em mim nenhum traço que permanece, a não ser os que o tempo desenha no meu corpo. O que há de mais antigo em mim é uma celulite no glúteo direito. O resto é tudo novo, e o novo me acende a vontade de renovar ainda mais, e a vontade exacerbada de me ultrapassar a todo o momento me deixa assustada, e o susto já não vem mais com o medo, agora o susto aparece inundado de desejo de querer mais, e eu tento parecer com quem eu era, por costume, ou pra não assustar as pessoas, ou por realmente não saber o que fazer com quem sou hoje. Não adianta eu aprender a lidar comigo hoje, amanhã serei outra, e depois outra, e depois outra, e talvez em algum momento algo meu se fixe a mim.