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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Pedaços de mim

Tenho escrito muito, porém em caderninhos e em blocos de notas no celular.
Tá, eu não tenho escrito muito, mas tenho escrito um pouco e não postado.
Não sei por que, mas arrisco a dizer que aqui não posto o que é verdadeiramente meu, posto só o que é meu, mas não muito. O que é demasiadamente meu nem eu posso ver direito. Escrevo e abandono.
Devem ser tentativas de abandonar pedaços de mim.
Na internet não é possível abandonar a si mesmo. Uma vez escrito, para sempre escrito.
É engraçado isso, porque sempre pensei que eu escrevia para não perder pedaços de mim. Pois hoje acredito que eu escrevo pra perder pedaços de mim e publico por amor aos pedaços de mim.
Só sei que é bom quando me leem. É muito bom ter sinais de que não enlouqueço sozinha com as palavras. Mas mesmo quando me dizem que se identificam com meus escritos, secretamente, eu não acredito. Acho que é sempre outra coisa que leram. E é. Assim como quando eu leio e me identifico com outros escritos é sempre outra coisa que eu leio.
Queria um pedaço de comunicação plena. Algo que não precisasse de palavras. Queria uma telepatia.
Com quem? Comigo mesma.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Poeminha reba

O leite derramou
Porque ela estava lendo poesia
O arroz queimou
Porque ela estava lendo poesia
A relação esfriou
Porque ela estava lendo poesia
O mundo acabou
E porque ela estava lendo poesia
Esqueceu de ler o resto do mundo

sexta-feira, 21 de março de 2014

Quando eu não me sou é que eu mais me sou

Não importa pra onde eu vá, com quem eu divida a existência, o que eu viva...de um modo ou de outro
eu sempre retorno à minha solidão
à minha triste solidão
à solidão que é minha
nada me faz sentir que eu sou tão eu quanto a minha própria solidão.

Nada me faz sentir tão próxima de mim quanto estar comigo mesma
há um hiato entre quem sou e quem penso ser
eu moro nesse hiato
É aí que tenho notícias de mim

Posso ir pra Miami, Cancun, Paris, Antártida
posso nunca usar droga alguma
posso beirar a overdose de tanta droga

e sempre que pergunto a mim quem eu sou
encontro comigo mesma
e isso nunca é apaziguante

Eu sou o que sobrou de mim
isso não é legal
mas eu não queria que fosse de outro jeito.

domingo, 9 de março de 2014

Do que muda sem se calar

Até ontem eu não era eu e não me lembro bem quem eu era. Queria sentir saudades de mim pra poder resgatar um pedaço de quem fui. Mas sou cada vez mais presente. O passado me marca no real do corpo e é por isso que sei que vivi. Os desenhos que o tempo faz no meu rosto, com cada vez mais ânimo, é que dizem da minha idade. Eu seria capaz de dizer que nasci há 5 minutos. Sou cada vez menos feita de passados. Logo eu, que tenho uma memória tão boa. A vida marca cada vez mais o meu corpo e cada vez menos a minha alma. Há um descolamento entre corpo e alma que dói menos a cada dia. Eu gosto da dor, gosto de dores que não doem. Gosto de tudo aquilo que me lembra que estou viva. Cada vez preciso menos escrever, isso me assusta. Não sou  quem pensei que eu fosse um dia. Não sou mais quem eu pensei que sempre seria. Não há em mim nenhum traço que permanece, a não ser os que o tempo desenha no meu corpo. O que há de mais antigo em mim é uma celulite no glúteo direito. O resto é tudo novo, e o novo me acende a vontade de renovar ainda mais, e a vontade exacerbada de me ultrapassar a todo o momento me deixa assustada, e o susto já não vem mais com o medo, agora o susto aparece inundado de desejo de querer mais, e eu tento parecer com quem eu era, por costume, ou pra não assustar as pessoas, ou por realmente não saber o que fazer com quem sou hoje. Não adianta eu aprender a lidar comigo hoje, amanhã serei outra, e depois outra, e depois outra, e talvez em algum momento algo meu se fixe a mim.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

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Não consigo mais escrever. Fazem algumas semanas que estou vazia de palavras. Sinto, sinto, sinto, mas o que eu sinto não vira palavra. Aquilo que eu sinto vira pensamento e some no exato instante em que penso em transcrever pro papel ou pro computador ou pro bloco de notas do celular. As coisas que sinto têm virado palavras apenas na condição de que eu não as escreva. E se sorrateiramente eu me encaminho pra descumprir o trato, tudo foge: a palavra, o pensamento, o sentimento. Tenho tido insights de madrugada, dos quais não me lembro quando abro os olhos, descobrindo que dormi. Minha cabeça tem revirado histórias que já aconteceram há anos, e fica inventando diferentes finais para aquilo que não posso mudar. Minha história me fez ser quem eu sou ao ponto de eu sequer conseguir desejar que as coisas ruins não tivessem me acontecido, porque então eu seria outra pessoa. Tenho me assustado com os meus pensamentos. Acho que é por isso que eles se recusam a serem escritos. Penso coisas absurdas e fico em dúvida se são pensamentos ingênuos ou se são desejos meus, desejos horríveis. Tenho me assustado comigo e isso me deixa medrosa. Não quero que os deuses escutem meus pensamentos, talvez por isso eu já não os possa escrever, talvez por isso eu sequer possa memorizá-los.