Não sei o que fazer, por isso amo.
Amo,e por isso não sei o que fazer.
Sei lá qual das duas afirmativas é mais verdadeira, mas sei que nenhuma delas é falsa.
Sei que viver é um treco estranho. Acho que estar morta me é mais familiar do que estar viva, ainda que eu não me lembre de ter estado morta alguma vez. (Não que eu não tenha estado, já estive morta inclusive em vida, mas eu faço um papel de morta tão bom que não me lembro depois como é.) Me sinto esquisita quando me percebo viva. Minha corrente sanguínea me faz sentir cócegas, minha pele me faz sentir claustrofóbica, minhas curvas me fazem sentir feminina. Sim, é estranho viver num corpo feminino. Ter um corpo já é estranho, ter um corpo com curvas, buracos (celulite, gente) e sangue é ainda mais estranho.
Amar também não pode ser natural. Não é possível que sentir essa urgência de fazer um com você, seja o que se espera de um ser humano. Não é possível que toda a humanidade sinta esse desespero que começa a latejar no peito e se alastra pelo corpo todo, na sua forma mais silenciosa. Porque quando as coisas gritam eu fico bem. Olha só, não sou eu, é fulano que está fazendo escândalo, tá vendo? E todos estão mesmo vendo. Mas as minhas crises existenciais fizeram curso de etiqueta. São silenciosas e só andam de salto alto. Saia na altura dos joelhos. Sorriso sem mostrar os dentes. Minhas crises existenciais são muito ladies.
Chega. Não sei mais o que dizer de mim. Cada dia que passa, um pedaço meu menor cabe na minha língua. Já não suporto a insuficiência da linguagem, já não suporto a falência do amor, já não suporto que eu não seja o suficiente pra mim.
Foda-se.
A coisa mais linda que aprendi nesse mundo.