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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Foda-se

Não sei o que fazer, por isso amo.
Amo,e  por isso não sei o que fazer.

Sei lá qual das duas afirmativas é mais verdadeira, mas sei que nenhuma delas é falsa.

Sei que viver é um treco estranho. Acho que estar morta me é mais familiar do que estar viva, ainda que eu não me lembre de ter estado morta alguma vez. (Não que eu não tenha estado, já estive morta inclusive em vida, mas eu faço um papel de morta tão bom que não me lembro depois como é.) Me sinto esquisita quando me percebo viva. Minha corrente sanguínea me faz sentir cócegas, minha pele me faz sentir claustrofóbica, minhas curvas me fazem sentir feminina. Sim, é estranho viver num corpo feminino. Ter um corpo já é estranho, ter um corpo com curvas, buracos (celulite, gente) e sangue é ainda mais estranho.

Amar também não pode ser natural. Não é possível que sentir essa urgência de fazer um com você, seja o que se espera de um ser humano. Não é possível que toda a humanidade sinta esse desespero que começa a latejar no peito e se alastra pelo corpo todo, na sua forma mais silenciosa. Porque quando as coisas gritam eu fico bem. Olha só, não sou eu, é fulano que está fazendo escândalo, tá vendo? E todos estão mesmo vendo. Mas as minhas crises existenciais fizeram curso de etiqueta. São silenciosas e só andam de salto alto. Saia na altura dos joelhos. Sorriso sem mostrar os dentes. Minhas crises existenciais são muito ladies.

Chega. Não sei mais o que dizer de mim. Cada dia que passa, um pedaço meu menor cabe na minha língua. Já não suporto a insuficiência da linguagem, já não suporto a falência do amor, já não suporto que eu não seja o suficiente pra mim.

Foda-se.

A coisa mais linda que aprendi nesse mundo.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Movimento,

Estou linda, tranquila, feliz.
Tenho vontade de berrar, correr, me desintegrar.
Desejo que você recolha meus cacos, me monte de novo, ainda mais linda do que eu me sentia antes.


Estou linda, tranquila, feliz.
Tenho vontade de berrar, correr, me desintegrar.
Desejo que você recolha meus cacos, me monte de novo, ainda mais linda do que eu me sentia antes.


Estou linda, tranquila, feliz.
Tenho vontade de berrar, correr, me desintegrar.
Desejo que você recolha meus cacos, me monte de novo, ainda mais linda do que eu me sentia antes.


Estou linda, tranquila, feliz.
Tenho vontade de berrar, correr, me desintegrar.
Desejo que você recolha meus cacos, me monte de novo, ainda mais linda do que eu me sentia antes.

Again.
De novo.
E novamente.

Parece um surto.
Parece uma esquizofrenia.

Mas é apenas o meu movimento feminino interior.
(Amar as curvas que você pode ver no meu corpo é fácil, difícil é amar as curvas da minha alma)

E tudo isso acontece infinitas vezes antes que eu lhe dirija uma palavra.


terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Blá-blá-blá...blé

E por um instante a coisa tá tão bonita que tenho medo de escrever e estragar tudo.
Vivo dizendo aqui que escrever tem consequências graves. Se invento algo, aquilo passa a fazer parte de mim, embora tenha sido de mim que saiu. Porque escrever é um pouco como dar vida às minhas partes mortas. E a coisa tá tão gostosinha aqui dentro de mim, que sei que faço uma loucura ao escrever agora. Talvez eu esteja mentindo, parcialmente, talvez se a coisa estivesse mesmo tão gostosinha dentro de mim, eu não me atrevesse a escrever. Que se dane, aqui estão as minhas letras. De mim para mim, com vocês como testemunhas. Não posso continuar, ou acabarei com a magia que aqui está morando. Acovardei-me. As minhas neuroses sempre vencem a minha escrita. As minhas neuroses são a coluna vertebral até mesmo do meu amor. Sim, o amor é podre, por isso tento floreá-lo tanto. Se soubéssemos o quanto o amor nos humaniza (e ser humano é asqueroso) não acharíamos que o amor é lindo e por isso salva ou coisa assim. O amor só nos fode. E enquanto fode, salva. É como morder e assoprar ao mesmo tempo. Vivo um estado de plenitude. Tá uma delícia me ser. E porque a coisa está tão gostosinha assim, estou esperando o próximo golpe da vida. O perigo de estar muito feliz é saber que a infelicidade está nos vigiando. Não é possível ser muito mais feliz do que já estou. Já sinto a vida puxando o meu tapete, e começo a sapatear sobre ele, aparentemente sem motivo e sem saber sapatear. Tudo está tão bonito que estou certa de que se eu me mexer vou estragar tudo. Estou tentando me manter paralisada para que esse instante não acabe. Mal respiro, a fim de impedir o tempo de passar pelo meu corpo. É por isso que escrevo sem dizer. Na tentativa de andar sem sair do lugar. É como andar na esteira. Me movimento, me movimento, mas é de mentirinha, só que é de verdade ao mesmo tempo. Me fodi porque escrevi, porque quando escrevo, me movimento, e quando me movimento, estrago. Penso agora em deletar o texto, mas ele já está escrito em mim. E não só a palavra dita, mas a palavra digitada também não permite que voltemos atrás. O pensamento pensado também não. Não consigo parar de escrever. Tenho medo de que o mundo pare se eu parar de escrever. Sim, às vezes me sinto responsável pelo mundo. É um pouco como eram as minhas rezas quando criança. É um pouco como são ainda as minhas (raríssimas) rezas. Deus, por favor,quero isso, ajude aquilo, mas que seja feita a vossa vontade. Mundo, seja do meu jeito, mas que o que tiver que acontecer aconteça. Fulano, me ame do jeito que quero ser amada, mas que não seja só porque eu quero. Ah, enjoei de mim, quanta futilidade.