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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Escrevo para acordar

Descobri que gosto de escrever e não parei mais. Escrevo quase-que-compulsivamente, e sempre me questiono o porquê de escrever. Me lembro de ouvir o Fabrício Carpinejar dizer, na Bienal do Livro, “escrevo para fugir de mim”. Achei lindo. Mas acho que não é pra isso que escrever me serve. Acho que eu escrevo para acordar.

Grande parte do tempo passamos vivendo no modo piloto automático. Não é hábito pensarmos quais músculos devemos movimentar para caminhar,  quais são as coordenadas para respirar ou como é que se faz para sentir carinho por alguém. Fazemos essas coisas como se fossem reflexos, como se já estivéssemos programados para isso. Eis que assim passei algum tempo da minha vida. Aí, um dia, que eu não sei exatamente quando, eu acordei. E com medo de dormir de novo, achei em escrever um bom modo de me manter acordada para a vida.

Não sei escrever no piloto automático. Ao contrário do Carpinejar, que escreve para fugir de si, eu tenho que me encontrar comigo para poder pôr as palavras para dançarem. Acho que a inspiração é isso: disposição para encontrar-se consigo mesmo. E a ideia, é um motivo para o encontro. Gosto da minha companhia.


*imagem: deviantart

sábado, 22 de janeiro de 2011

Ondas

Amores que vão
Paixões que vêm
Amar para sempre é em vão
Amo-te agora, meu bem.

Ondas de vida
Ora me libertam, ora me sufocam
Eu sou sempre eu, e, no entanto me sou proibida
Aqui e ali, pedaços de eu, em mim se deslocam.

Mas é contigo, meu amor
Que mais comigo eu sou
Me perco e sinto-me em paixão e ardor
Viver contigo em mim, eu vou.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Felicidade pode doer?

As vezes chego perto de me desintegrar. Emoção exagerada, excesso de alegria, intensidade de dor, às vezes simultaneamente. É quando sinto a morte atrás de mim, assistindo-me, permitindo-me mais alguns espasmos nos pulmões, concedendo-me mais algumas batidas ao meu coração.

Eu posso ser feliz assim? Sim, eu posso. A felicidade me dói. Não tive uma vida muito difícil até aqui, deveria até estar acostumada à felicidade. Mas a alegria é coisa que prezo tanto que não posso usá-la tantas vezes. Sou avarenta. Quero economizar a alegria, porque se a guardo nos bolsos das minhas veias, está sempre comigo. Não acaba. As vezes a guardo tão bem que esqueço que está comigo. Ou, esqueço-a apenas pelo prazer de reencontrá-la.

Hoje eu gastei um monte de alegria. Joguei pro ar, ela caiu sobre mim, e sinto que o meu corpo está a toda, fabricando mais dela. Não sei por que motivo sou avarenta com a minha moeda, a alegria, se em mim tenho um banco dela.

Talvez haja diferentes formas de alegria, e hoje eu achei uma delas, da boa, guardada bem lá no fundo. Talvez a alegria seja um pouco como vinho. Quanto mais velha, melhor.

Não sei desde quando ela estava lá, fiquei realmente surpresa ao reencontrá-la. Ao reencontrar-me. Tenho pedaços de mim que não conheço. Não uso e acho que não existem. Não é porque não me vejo que não estou lá. Ou aqui.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Amar é paradoxal



"Os seus braços são as paredes da minha casa. O seu queixo é o meu teto. Mas, ei...eu não tenho chão..."

Porque amar é isso. É ficar sem chão. O que nem sempre quer dizer voar.

As vezes, amar é cair em queda livre (pleonasmo? tudo bem, o amor é pleonástico. Dizemos "eu te amo, meu amor") e gostar do friozinho na barriga que se sente.

Amar é tropeçar no que parece ser o nada. É se atrapalhar com as próprias pernas, porque se quer correr quando ainda estamos aprendendo a engatinhar.

Amar é não saber se no dia seguinte ainda haverá amor. E torcer para que continue. E rezar para que acabe.

Porque amar é paradoxal. Amor e ódio são irmãozinhos, feitos do mesmo material, geneticamente.

Enquanto o amor ama, o ódio está ali rodeando, vigiando. Escorregou, caiu. Mas não há chão. Aí, aquela história "do chão não passa" é inválida. Passa do chão, sim. Cai. Não pára mais de cair. É a Alice entrando no buraco. Dá tempo de admirar a paisagem, de fazer planos para quando se atingir o chão. E este chão, tão almejado, só se tem quando se deixa de amar. E o chão também dói.

A certeza é chata e entedia. Amar dói. Não amar, dói mais ainda.



sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Angústia




As vezes acontece que eu fico sem ideia para escrever. A inspiração vem, mas a ideia fica encalhada, em algum lugar. Aí eu penso “mas como?" Eu penso tanta coisa sobre tanta coisa! Posso falar por horas ou escrever páginas sobre tantos assuntos, principalmente os triviais. Acontece que isso me ocorre agora e é por esse motivo que escrevo disso.

Tem quem se queixe de falta de inspiração para escrever. Eu ainda não sei o que é isso. Sei o que é falta de ideias. É quando parece que nada é bom o suficiente que se mereça transformar em letras. E se insisto, e ainda assim resolvo escrever, aquilo me dá náuseas. Não quero que o leitor tenha náuseas assim, por isso apago muitas coisas das quais escrevo.

Náuseas também, tenho quando leio algo muito genial. Mas aí, são náuseas diferentes. Quando leio Marguerite Duras, ou Clarice Lispector, por exemplo, fico levemente tonta, com um incômodo estomacal. As vezes são tonturas doces, as vezes são violentas e angustiantes.

Chamo de angústia a sensação desagradável de se perceber que está preso em um corpo. Ou, melhor, a sensação esquisita a que chamo de angústia é a de perceber que eu sou um corpo. Eu sou cada uma das minhas células – inclusive as mortas – eu sou os meus órgãos, eu sou o meu sangue e as minhas lágrimas. Saber disso, dá-me angústia.

Porque em uma grande parte do tempo, isto é, quando estou vivendo no modo automático, acredito que sou os meus pensamentos e sentimentos. Mas não, isso eu não sou. Porque isso muda a toda hora. Mas, bem...também as minhas células mudam a toda hora. Desde o dia em que nasci até hoje, não há uma célula sequer que me acompanhe, assim como também não há um pensamento que seja o mesmo. Ora, eu vivo me transformando toda. Então como sei que eu sou eu? Ainda bem que eu tenho um nome. Se não fosse isso, perder-me-ia toda.

Sou onde não penso. (Jacques Lacan)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Para começar


O ano passado me foi delicioso. Descobri que gosto de escrever. Como é que pode isso? Descobrir algo que já se sabia? Sim, porque quando pequena eu já gostava muito de escrever. Era uma criança daquelas que escrevia em blog com cadeado, mas sempre perdia o cadeado e largava o diário pela casa. Acho que eu já queria ser lida.

Depois, eu ensaiei poesias. Escrevia sobre o que era deixar de ser menina e passar a ser mulher, na pré-adolescência. Falava até de uma tal sensualidade, coisa que eu nem sabia o que era. E provavelmente ainda hoje não o saiba.

Quando estava no terceiro ano do ensino médio o professor de redação usava as coisas que eu escrevia para mostrar para a sala exemplos de redação bem-feitas. Eu, envergonhada, pedia que ele não revelasse que era eu quem escrevia. Esse professor me disse que seria um desperdício se eu não fizesse faculdade de jornalismo, mas eu já estava decidida a fazer outro curso, não sei bem por que. (Ou talvez saiba, mas não cabe falar disso agora)

Aí, agora, depois de 3 anos de formada, começo a pensar que podia até ter feito outra faculdade. Oras, onde estava em nesses últimos 10 anos (somando ensino médio, faculdade e tempo de formada), que me esqueci que gosto de escrever?

Acho que pra escrever a gente tem que achar as coisas que pensa interessantes. Pois, se penso só bobeira, por que é que vou escrevê-las? E olha que eu sou bem crítica com as minhas coisas. Com as que penso e com as que escrevo. Eu devia estar distraída com alguma coisa muito importante, que eu já não me lembro o que é, para ter me esquecido dos meus pensamentos. Lembrei que eles existem só depois de centenas de sessões de análise. Eu disse centenas, e não é metáfora. Eu passei a ouvir as coisas que penso, e  aí fiquei com vontade de dividir isso com as pessoas. É isso o que eu proponho fazer aqui: dividir pensamentos.