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sábado, 25 de junho de 2011

Não sei a língua do silêncio




A vida passa, a gente fica. Quanto mais passado, mais passados. Fazemos perguntas, silêncios respondem. É incompreensível, não sei a língua do silêncio. Não conheço a língua do universo. Eu só sei quando a coisa está pronta e desenhada na minha frente. Desdenhada na minha frente. Eu só entendo o óbvio ululante. Humanos tendem a ser surdos, cegos e mudos. Quanto mais biologicamente perfeito, mais incompleta é a alma da pessoa. Ai, de mim, que tenho os meus cinco sentidos perfeitos e que sei me servir tão pouco deles. Ai, de mim, que carrego um corpo nesse mundo, sem saber por que. Esse corpo me dá prazer, é verdade, os prazeres da carne são deliciosos e tentadores. Mas esse corpo é a minha jaula. É ele quem me põe em contato com o mundo, mas que me limita, ao mesmo tempo. Onde é que o meu corpo acaba e a jaula começa? O que há além do universo? Quem é que brinca de ser Deus? Por que há canções que nos entortam a alma? Cadê as notas musicais, que não consigo ver? Tenho tantas perguntas a fazer e não encontro a quem... a maior parte das pessoas nem escuta as suas próprias perguntas. E não apenas porque pensar dá trabalho. Mas é que perguntas sem respostas nos dóem, arranham o contorno do mundo, borram a existência e nos fazem lembrar que o universo pode até ser colorido, mas nós só o vemos em preto e branco. Perguntar é cantar a existência.


13 comentários:

Anônimo disse...

Nesse momento, me fiz varias perguntas e o silêncio respondeu. Tem silencios que falam mais que mil horas de discursos.. o problema reside em q apesar de escutar o silencio eu me nego a aceitar as respostas q ele me dá.

não, não quero as repostas ditas pelo que cala, quero a verdade verbalizada, gritada.. mesmo q doa, mesmo q sangre. Silencios doem muito mais.

Bjus.. adoro seu blog

Talita Prates disse...

Saber que algumas perguntas nunca serão respondidas me frustram intensamente.

Adorei o texto.
Diz muito do que penso/sou.

Bjo, A!

Talita
História da minha alma

Rafael Castellar das Neves disse...

"Perguntar é cantar a existência" Muito bem pensado...se bem que certas perguntas podem ser ignoradas para não martelarem demais a cabeça...rs

[]s

Nati Pereira disse...

Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Beijo

Ayanne Sobral disse...

Ai, como dói isso que tu faz. Como diz de mim.

Também não sei a língua do silêncio. Tenho um desespero - um tanto quanto resignado, mas desespero - de ter que existir sem saber porque ou até quando. E de não ter respostas para a maioria das perguntas, e de não ter perguntas para algumas respostas.

Você cantou tão lindamente, Alicia. Eu ouvi daqui.

Tuas palavras são agridoces, misturam um doce-salgado sem fim - e que bom que não têm fim. São pra lá de inteiras. Um delícia de ler.

O problema em vir aqui é que eu não quero mais sair.

Amo o que você escreve. Amo.

Unknown disse...

O presente é tempo insuficiente para alcançar todas as respostas. Me identifico muito com seus textos, sua sensibilidade no escrever é genial!

Abraço

Mila Ferreira disse...

"Tenho tantas perguntas a fazer e não encontro a quem... a maior parte das pessoas nem escuta as suas próprias perguntas."

Lindo Alicia. Temo que as perguntas é que dão um sabor a vida... mas temo que uma grande maioria das pessoas têm medo de perguntar!!!

Beijossssss
http://devaneiosfugazes.blogspot.com/

Luz disse...

Gosto, ao ler uma obra, de colocar as impressões com minhas próprias palavras. De alguma forma o que leio e interpreto, por mais torto e desconfigurado que seja do que o autor quis passar, contribui de alguma forma na minha subjetividade e assim, vou me organizando.
Acho que por isso, a arte tem linguagem que chega a todos, porque ao chegar a mim ou ao outro qualquer, ela nos toca no que precisa ser tocado.

Acontece, moça, que tem contos seus que não precisam de mais absolutamente nada, nenhum comentário pq por si próprio cada um deles já o fez magistralmente.

Mas, não vou me furtar de parafrasear-te, com a frase mais linda que li aqui:

"Mas esse corpo é a minha jaula"

... e nele minha alma aproveita para materializar-se e brinca, ainda que eu nem saiba os porquês.

Carina Destempero disse...

Meu corpo não me comporta. Quero fugir. Mas cadê a porta?

As perguntas importantes precisam apenas ser feitas, não respondidas, por mais angustiante que isso seja.

Adoro teus textos que, como esse, parecem mais pensamentos soltos que as palavras tentam encadear mas nunca fecham.

Um beijo!

Lívia Azzi disse...

Senti essa prosa como uma ponte entre psicanalítico e filosófico, o ovo e a galinha, a casca e a ferida...

Fico a pensar como deve ser gostoso ouvir você falar.

Camila Lourenço disse...

Esse texto tá bem a minha cara hj...
mas ando cansada até de perguntar.
agora, me calo...cansei.


bj

Marcelo Henrique Marques de Souza disse...

Bela reflexão, Alicia. Só acho que quem só entende o 'óbvio ululante' não consegue enxergar as sutis relações entre 'o que vem desenhado' e o 'desdém'..

Pergunta sem resposta? É poesia.. (Viu? Não respondi..)

Anônimo disse...

a língua do silêncio é no céu da boca.