Putz! Como você me irrita. E irritação eu nem sei o que é. Mas não é uma irritação daquela que eu tenho com a tele-atendente que me faz passear por todos os ramais da empresa dela, por pura incompetência. É uma irritação diferente. Aliás, eu nem sei se é irritação. Porque não é exatamente você que me incomoda, mas é o sentimento que eu tenho por você. Que apesar de lindo, maravilhoso, e blábláblá, às vezes só faz doer. E engana-se todo aquele que pensa que dor de amor é num coração imaginário, ou que é dor psíquica.
Dor de amor é física. Rasga, e não é metáfora. Arde, e não é modo de falar. Tonteia, e não é impressão. O amor é cru. O amor é palavra nua. O amor é sentimento visceral. O amor é a encarnação do não saber de si mesmo.
E aí, quando eu me dou conta de que entrego a você a parte mais obscura de mim, eu me assusto. Assusto-me comigo e com a minha inocente coragem.
Porque se a gente soubesse o que faz com a gente mesmo quando decide amar (eu disse decide?) então a gente não poderia amar. A indiferença é que nos dominaria.
Amar é a coisa mais doida que se posso fazer em vida. E doida, com um acentozinho de nada, vira doída.
Então eu sei um tantinho de mim, e não sei um tantão de mim. Daí, aquele tantinho, eu mantenho comigo, firme entre os dedos polegar e indicativo. Isso, então, me faz pensar que estou no controle dos meus impulsos. Doce engano Porque aquele tantão que eu NÃO sei de mim, eu simplesmente ouso inflar os meus pulmões e assoprá-lo na sua direção. E o faço com tanta firmeza quanto uma criança que assopra vela de bolo de aniversário.
É aí que pedaços de mim voam. Partículas do meu ser espalham-se por esse universo todo cheio de física.
Algumas partes de mim, você consegue pegar, da forma mais bonita e aconchegante possível. Outras partes, igualmente minhas, você nem vê, e eu as perco. Outras partes, ainda, você encontra passado algum tempo, e as toma de um modo rude, assim como bem entende.
E a parte de mim que está comigo, o chamado tantinho, somente pode assistir. Porque presente dado não se pode tomar de volta. Porque aquela purpurina toda no chão, não sabe o caminho de volta pra casa.
E no fim das contas, a minha irritação é toda por me perder em nome de um sentimento que sequer sei nomear. Que eu sequer sei como existe.
Um sentimento que parece nem existir, mas que eu empresto o meu corpo para que ele se materialize. Física pura.
Aliás, o amor é coisa que eu sequer sei em qual parte do meu corpo acontece. Que eu sequer sei se é um sentimento.
Porque às vezes o amor mais parece uma tele-atendente de má-vontade, mesmo. Alguém que quase tira sarro de você, te fazendo mostrar a sua própria falta ardendo em carne viva, pelo puro prazer de oferecer a falta dela também, que não pode te ajudar.
Porque às vezes o amor mais parece uma tele-atendente de má-vontade, mesmo. Alguém que quase tira sarro de você, te fazendo mostrar a sua própria falta ardendo em carne viva, pelo puro prazer de oferecer a falta dela também, que não pode te ajudar.