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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

zZzZzZzZZZzzzz...

Estou farta de te amar. Amo um dia, no outro também e no outro, ainda. Aí decidi desamar um pouco, pra sair da rotina. Aí fiquei presa no excesso de desamor. Que na verdade não é falta de amor, é uma tentativa de não te sufocar com meus excessos (ou com as minhas faltas, não sei bem qual é a diferença). Aí fico te protegendo do meu amor que é sufocante pra você e é sufocante pra mim também, e como consequência disso, fico amor-tecida. Assim meio zumbi, assim meio presa numa sucessão de dias que são parecidos. Assim meio com preguiça de ter que lidar com o meu desejo de te devorar, assim meio com preguiça de ter que lidar com o seu medo de ser devorado por mim. Meu desamor me protege disso tudo, mas por outro lado me priva de boa parte das delícias que tenho quando te amo de peito aberto. Acabo de saber que é por isso que eu não tenho escrito. Meu primeiro post desse blog teve como título "escrevo para acordar". Então é isso, não tenho escrito porque estou dormindo. Eu e essa minha compulsão brega a ser bela adormecida. (Mas não é um beijo que me acorda, é a escrita. Só depende de mim.)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Pedaços de mim

Tenho escrito muito, porém em caderninhos e em blocos de notas no celular.
Tá, eu não tenho escrito muito, mas tenho escrito um pouco e não postado.
Não sei por que, mas arrisco a dizer que aqui não posto o que é verdadeiramente meu, posto só o que é meu, mas não muito. O que é demasiadamente meu nem eu posso ver direito. Escrevo e abandono.
Devem ser tentativas de abandonar pedaços de mim.
Na internet não é possível abandonar a si mesmo. Uma vez escrito, para sempre escrito.
É engraçado isso, porque sempre pensei que eu escrevia para não perder pedaços de mim. Pois hoje acredito que eu escrevo pra perder pedaços de mim e publico por amor aos pedaços de mim.
Só sei que é bom quando me leem. É muito bom ter sinais de que não enlouqueço sozinha com as palavras. Mas mesmo quando me dizem que se identificam com meus escritos, secretamente, eu não acredito. Acho que é sempre outra coisa que leram. E é. Assim como quando eu leio e me identifico com outros escritos é sempre outra coisa que eu leio.
Queria um pedaço de comunicação plena. Algo que não precisasse de palavras. Queria uma telepatia.
Com quem? Comigo mesma.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Poeminha reba

O leite derramou
Porque ela estava lendo poesia
O arroz queimou
Porque ela estava lendo poesia
A relação esfriou
Porque ela estava lendo poesia
O mundo acabou
E porque ela estava lendo poesia
Esqueceu de ler o resto do mundo

sexta-feira, 21 de março de 2014

Quando eu não me sou é que eu mais me sou

Não importa pra onde eu vá, com quem eu divida a existência, o que eu viva...de um modo ou de outro
eu sempre retorno à minha solidão
à minha triste solidão
à solidão que é minha
nada me faz sentir que eu sou tão eu quanto a minha própria solidão.

Nada me faz sentir tão próxima de mim quanto estar comigo mesma
há um hiato entre quem sou e quem penso ser
eu moro nesse hiato
É aí que tenho notícias de mim

Posso ir pra Miami, Cancun, Paris, Antártida
posso nunca usar droga alguma
posso beirar a overdose de tanta droga

e sempre que pergunto a mim quem eu sou
encontro comigo mesma
e isso nunca é apaziguante

Eu sou o que sobrou de mim
isso não é legal
mas eu não queria que fosse de outro jeito.

domingo, 9 de março de 2014

Do que muda sem se calar

Até ontem eu não era eu e não me lembro bem quem eu era. Queria sentir saudades de mim pra poder resgatar um pedaço de quem fui. Mas sou cada vez mais presente. O passado me marca no real do corpo e é por isso que sei que vivi. Os desenhos que o tempo faz no meu rosto, com cada vez mais ânimo, é que dizem da minha idade. Eu seria capaz de dizer que nasci há 5 minutos. Sou cada vez menos feita de passados. Logo eu, que tenho uma memória tão boa. A vida marca cada vez mais o meu corpo e cada vez menos a minha alma. Há um descolamento entre corpo e alma que dói menos a cada dia. Eu gosto da dor, gosto de dores que não doem. Gosto de tudo aquilo que me lembra que estou viva. Cada vez preciso menos escrever, isso me assusta. Não sou  quem pensei que eu fosse um dia. Não sou mais quem eu pensei que sempre seria. Não há em mim nenhum traço que permanece, a não ser os que o tempo desenha no meu corpo. O que há de mais antigo em mim é uma celulite no glúteo direito. O resto é tudo novo, e o novo me acende a vontade de renovar ainda mais, e a vontade exacerbada de me ultrapassar a todo o momento me deixa assustada, e o susto já não vem mais com o medo, agora o susto aparece inundado de desejo de querer mais, e eu tento parecer com quem eu era, por costume, ou pra não assustar as pessoas, ou por realmente não saber o que fazer com quem sou hoje. Não adianta eu aprender a lidar comigo hoje, amanhã serei outra, e depois outra, e depois outra, e talvez em algum momento algo meu se fixe a mim.